Como engajar os alunos nas disciplinas on-line - PUC Minas - Brasil

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Conheça os principais elementos do planejamento de aulas on-line que mantêm os alunos motivados. Saiba, ainda, qual é o papel do Canvas na implementação das estratégias de engajamento.

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Olá, meu nome é Marcos Kutova. Eu sou o pró-reitor adjunto da PUC Minas Virtual, que é a unidade da PUC Minas que cuida da educação à distância da nossa universidade. Venho falar um pouquinho para vocês das nossas experiências com o engajamento dos alunos nas disciplinas online. Sejam elas as disciplinas síncronas ou as disciplinas assíncronas, ou até mesmo aquelas disciplinas híbridas, que carregam um pouquinho de momentos presenciais e de momentos online. Para começar nossa apresentação, vou compartilhar aqui a minha tela. A gente começa discutindo o que é esse engajamento.

O que é o engajamento que a gente tanto busca nas nossas disciplinas para depois a gente pensar como trazer os alunos para algo mais engajador. A gente, normalmente, quando fala de engajamento, tem na cabeça essa figura dos alunos apáticos, pouco concentrados nas nossas aulas, que não estão assistindo os vídeos, que não estão fazendo as atividades, que não participam dos chats, mas qual é o real problema que leva a isso? Será que nós estamos falando de um problema geracional, de uma geração que de fato não consegue se concentrar em nada, que está superestimulada, superconectada, que não tem foco, que não tem atenção? Ou o problema é diferente? O problema é de um modelo educacional que já está esgotado? Décadas e mais décadas se praticando o mesmo tipo de aula, com a mesma expectativa dos alunos na sala de aula, seja ela presencial ou online - não é isso que está esgotado? Vamos fazer uma analogia? Como é que nós nos sentimos nos nossos encontros online, nas nossas reuniões online, quando a gente tem uma reunião de uma hora e meia, que é mais ou menos o tempo de duração de uma aula, como é que nós nos comportamos? Será que a gente consegue manter a atenção o tempo inteiro naquilo que está acontecendo na reunião? Ou a gente dá uma olhadinha nos e-mails, vê se chegou alguma notificação no celular, corrige prova, corrige exercício? É difícil você imaginar que nós mesmos consigamos mantes a atenção durante todo esse período de tempo sem uma distração. Às vezes até a gente manter as nossas próprias câmeras desligadas. Então. Os alunos, além de ter essa hora e meia de uma aula, eles têm outra ne sequência, isso ocorre quase todos os dias.

Para eles, é um desafio muito maior. Quando a gente fala das reuniões, a gente tentou trazer aquela experiência da reunião presencial pro online. Mas olha, a reunião presencial já não era tão boa. Ela já tinha lá seus desafios, baixa proatividade, a confusão, ela é ótima para a socialização. Mas para a efetividade do trabalho, ela não é a melhor forma.

E quando a gente traz para o online, a gente traz uma coisa que já não era muito boa para ser feita online, que é ainda pior. Daí a gente tenta forçar no modo online algo que presencialmente já não era bom. Então será que não é esse o problema da nossa educação? Será que a gente já não precisava dar uma atenção a esse modelo educacional que a gente tem antes de transpô-lo, de digitalizá-lo, transpô-lo para o online? Acho que isso é mais provável. Até durante esse período da pandemia, essa foi a solução: nós fizemos as aulas síncronas. Mas era uma solução emergencial, aquilo era para um contexto pandêmico, em que a gente não podia ficar parado esperando uma pandemia passar.

Só que agora, dois anos depois, ainda tem muita gente, muita instituição, achando que achou o caminho das pedras. É isso que vai ser a educação no futuro, a gente vai ter mais aulas online do que aulas presenciais, porque você economiza com deslocamento, com infraestrutura, os alunos podem sair de uma aula para outra com tranquilidade. . . Não.

Esse ensino síncrono era uma solução emergencial e deveria ter ficado assim. Qual é a consequência? A imagem está aí, os alunos ficam com as câmeras desligadas, você faz perguntas e ninguém responde, na hora de fazer atividades somem. . . de repente você descobre que está sozinho, que os alunos, alguns nem estão ali na frente dos computadores, e a gente vê vários casos curiosos aí na Internet, gente que está tomando banho, que está cantando, fazendo as unhas, que está jantando durante as aulas.

Não é uma boa ideia manter esse modelo. Novamente, o encontro entre as pessoas é muito bom, mas aulas síncronas de uma hora e quarenta, uma atrás da outra, várias vezes por semana, não é uma boa ideia. E surgem por aí várias propostas tecnológicas que parecem fabulosas. "Vamos gamificar a aprendizagem; a inteligência artificial vai criar um processo de educação personalizado; vamos usar o metaverso. .

. . " Saiu agora esses dias uma notícia de um curso de administração que será totalmente no metaverso. E, se tudo der errado, a gente põe proctoring. A gente começa a vigiar os alunos fazendo provas para que eles não colem.

Não. Tecnologias são ferramentas, nada mais do que isso, e elas têm o seu papel no contexto de aprendizagem. Mas elas não são soluções mágicas. Não vão resolver o problema do engajamento. Podem até ajudar, mas não são soluções nem necessárias, nem suficientes.

Dei alguns exemplos básicos aqui, no caso da inteligência artificial, que dizem que vai personalizar a aprendizagem, bom, tem exemplos muito legais. O Spotify me recomenda músicas o tempo todo, e eu acho isso fabuloso, o Waze determina as rotas que eu devo fazer para chegar de casa para o trabalho ou do trabalho para casa, ou para viajar. Mas também nos limitam a exposição a questões diferentes. Veja, o Spotify, ele me mostra as músicas que eu gosto. Músicas relacionadas a aquelas que eu gosto.

Não vai me expor a músicas diferentes, músicas novas, gêneros novos que eu não conheço. O Waze não vai me permitir chegar a lugares desconhecidos que poderiam ser fabulosos, lindos, prazerosos, por quê? Porque ele vai me dar a rota mais eficiente. E quando eu trago a inteligência artificial para a educação, ela vai me dar o caminho mais eficiente para a formação do aluno, provavelmente baseado nas experiências prévias dele ou baseado no padrão comportamental geral dos alunos. Então os alunos não serão expostos a coisas não previstas, e que poderiam representar uma oportunidade muito interessante para eles. Claro, a inteligência artificial vai ter seu papel, mas ela não vai resolver sozinha o nosso problema.

Da mesma forma, quando a gente fala de gamificação, de metaverso, a gente está caminhando para a diversão, para eliminar um pouco das dores. Agora vamos pegar um exemplo aqui, forçado. Se eu for para a fila de banco, ficar sessenta minutos vai ser terrível, desagradável, muito chato. Aí eu falo assim, não, mas é uma fila de banco gamificada. Não vai rolar, né? Talvez da primeira vez seja até curioso.

Mas a segunda ou terceira vez que eu pegar essa mesma hora na fila de banco gamificada, não vai rolar. E, para os alunos, são várias aulas por semana, de novo. Então gamifica a primeira, a segunda, terceira, quarta, quinta também? Toda semana? Não dá, é um esforço muito grande e o resultado não é esse. Então tecnologia não é solução mágica. O proctoring - desculpa, acho que nem vale a pena falar.

Proctoring para mim, a única coisa que ele estabelece é que os alunos não são dignos de confiança por parte dos professores. Nenhum de nós se sente bem vigiado por tecnologia. Por câmeras. Eu acho que não. Não é uma solução que a nossa instituição aceite.

Ótima para processos seletivos, para concursos. Para a educação, não é a solução. Mas então. Vamos entender qual é o problema do engajamento? Em primeiro lugar, a gente não pode pensar no engajamento só como aquele fazer. O aluno está fazendo as coisas.

Esse Pedro Nogueira, que é um professor de educação que escreve muito sobre equidade, é um gestor de colégio e agora de universidade, ele trabalha o engajamento em três dimensões. Primeiro essa comportamental mesmo, que diz se o aluno está fazendo as coisas. Ele está envolvido com a tarefa? Ele está superando as dificuldades ou ele para logo de cara? O aluno engajado, ele supera, vai encarar os desafios, sim. Está buscando ferramentas, recursos, informações para fazer a atividade? Então, essa ação está na dimensão comportamental. Mas também tem as dimensões emocional e cognitiva.

Na dimensão emocional, a gente vai falar do tanto que ele está interessado naquela aprendizagem. Envolvido emocionalmente. E a gente mede por isso. Ele realmente se preocupa com aquela atividade, com aquela aprendizagem, com aquele estudo, ou está fazendo só porque o professor mandou? Ele está realmente se esforçando, ele está dando tudo de si? Ele está interessado no resultado ou tanto faz? Então, no engajamento, a gente tem que ler esse lado emocional também. O aluno está participativo, interessado, curioso, se envolvendo, se esforçando? E, na cognitiva, nessa dimensão, a gente vai buscar ver se ele entende o que está acontecendo.

Porque se o aluno faz as coisas meio sem entender, ele também não vai se engajar. Ele tem que entender por que está fazendo aquilo, o que ele está fazendo, quais são os resultados esperados, como ele puxa os seus conhecimentos prévios, suas habilidades prévias para fazer alguma tarefa, alguma atividade. Então são três dimensões. E quando a gente fala "precisamos achar uma solução para o engajemento, não vai ser só no fazer, mas buscar esse interesse, essa motivação, e também a compreensão do processo. A gente fala muito de metacognição.

Então, continuando, a gente tem essas três dimensões, mas a gente também tem algumas recomendações do que podemos fazer de forma mais prática. Na verdade, a gente vai olhar sob o ponto de vista contrário. Nós vamos ver quais são os inimigos do engajamento, que fazem parte de um livro do Dennis Shirley e do Andy Hargreaves chamado "Cinco caminhos para o engajamento", já fica aí a dica. Eles falam de cinco caminhos, aqui estou mostrando cinco inimigos. Que são também os cinco caminhos na perspectiva oposta.

Você resolver esses cinco problemas são os tais cinco caminhos citados no livro deles. Mas é uma obra muito interessante. Eles trazem essa perspectiva de que o problema do engajamento envolve muito mais coisa do que só o fazer. Por exemplo, eles começam dizendo do desencantamento. Educação burocrática, é chata, é programada, é previsível, não tem magia, usando as palavras deles.

Quando você está lá na educação básica, você começa a descobrir as coisas, muita fantasia, muita história, muitas coisas surpreendentes, novidades, muita inovação. Isso é legal. Mas quando você vai caminhando na educação, chegar numa educação superior, ela começa a ficar chata, começa a ficar só conteúdo mais conteúdo e prova e conteúdo e prova e conteúdo e prova, fica chato, fica sem graça, não tem nada surpreendente acontecendo. Então as pessoas ficam desencantadas, não veem muita graça naquilo. Segunda coisa, a desconexão.

Os alunos passam a ficar desconectados do processo. isso aí para eles, ó, tanto faz, estou nem aí. Sou indiferente àquilo que está acontecendo. Se eu vou aprender ou não vou aprender não interessa, eu só preciso passar na matéria porque senão não me formo. Estão desconectados do esforço como um todo.

Não estão preocupados com os resultados. Quando a gente fala de dissociação, estamos falando muito do sentimento de pertencimento. Eles não se sentem pertencentes àquilo. Eles não se sentem envolvidos com aquilo. Para eles, o colega que está ali é só mais um, o professor que está ali é só mais um, não existe essa conexão entre pessoas.

Ou melhor, associação entre eles. Nesse caso, é até muito comum eles buscarem culpados para as coisas que dão errado. Então, se o aluno vai mal, ele fala assim, "A atividade foi injusta, o professor pesou a mão na prova. " A culpa é do outro. Esse processo de aprendizagem que você criou não vale a pena, porque eu não tenho tempo para fazer isso Não se sente parte de um grupo, de uma instituição.

Falta esse sentimento de pertencimento. O desempoderamento, ele se sente incapaz de fazer qualquer mudança. Os alunos entendem que eles não influenciam nada. E se eu sou apenas um sujeito passivo, que recebo ordens, regras, e não posso fazer nada com isso, então também não me envolvo. Claro, pensando aqui na perspectiva dos alunos.

Então, quando o aluno não tem poder para decidir, influenciar as coisas, ele também não vai se envolver muito. E muitas vezes é pior, porque quando ele tenta fazer alguma coisa diferente, ele é punido. Seja porque tirou uma nota baixa, tomou bomba, qualquer coisa diferente daquilo que foi determinado pelo professor, que é, de fato, o sujeito empoderado. Ele perde. Eu parei aqui porque nem sempre é o professor que determina, às vezes é a própria instituição que determina o que o professor deve fazer e o próprio professor se sente desempoderado.

E a gente, quando passa por isso, fica muito frustrados. Para os alunos é ainda pior, eles têm que cumprir ali o que foi determinado por outro. E, finalmente, a distração. Distração é o problema aí sim da sociedade atual. Não só da turma nova, não só dessa geração de alunos, mas nosso também, nós nos sentimos o tempo todo provocados pela tecnologia, estimulados, a gente recebe notificação toda hora, a gente, como eu disse, não consegue prestar atenção numa reunião inteira, porque o celular chama atenção.

Quando a coisa começa a ficar chata, nossa mente pede por algo mais e os nossos dispositivos, as tecnologias, as redes sociais, elas estão ali. Prontas para pegar a sua atenção. Nós somos uma sociedade atual sem atenção, sem concentração, são poucas as pessoas que conseguem ler um livro de trezentas páginas, quer mais, quer rápido, quer imediatismo, quer algo multitarefas, que você pula de uma coisa, ficou chato, passa para outra. Então a gente está assim. Se a gente quiser resolver o engajamento, não é a tecnologia, a gente precisa dar atenção a esses pontos.

Como que a gente pode buscar o encantamento dos alunos, como a gente pode conectá-los ao processo como um todo, promover o sentimento de pertencimento, de associação, dar poder a eles e reduzir um pouco os elementos de distração. Veja até, se eu trago mais tecnologia para a sala de aula, para o processo de aprendizagem, a chance de eu distrair os alunos é ainda maior. Então. A gente tem trabalhado aqui na nossa instituição muito com a ideia de um planejamento integrado. Em que a gente vai olhar os três principais elementos de um planejamento de uma aprendizagem e de um plano de ensino e tentar trabalhar com eles de forma integrada.

Estamos falando do que você já está bem ciente, não tem nenhuma novidade aqui. Falando de objetivos de aprendizagem, das atividades que os alunos vão fazer e das avaliações. Eu não preciso de tecnologia para nada disso. Eu preciso de atenção. Eu preciso de preocupação com aquilo que eu estou desenhando para os meus alunos, e ir vendo onde que a coisa vai funcionar ou não vai funcionar bem.

Então nós não precisamos de - na verdade, essa discussão não precisaria nem ser para disciplinas online. Se daria muito bem para disciplinas presenciais também. Vamos pegar aqui o primeiro desses elementos e objetivos. Quando a gente desenha uma disciplina, qual é o nosso ponto de partida? Na maior parte das vezes - espero que não seja o seu caso, já não é o meu - a gente parte da ementa. Quais são os temas, assuntos, tópicos, que eu preciso trabalhar com os alunos.

E aí eu desenho toda a disciplina a partir disso. Eu vou determinar os objetivos de aprendizagem a partir da ementa. Vamos mudar isso? Vamos pensar na seguinte perspectiva: Ao invés de ensinar ao aluno uma habilidade ou uma técnica, quem sabe eu não promovo uma transformação? Eu gostaria que os meus alunos se tornassem outras pessoas, pessoas melhores. Então não estou querendo ensinar fatos ou técnicas, habilidades. Eu estou querendo transformar.

Eu quero mudar o meu aluno, eu quero que seja outra pessoa, que ele evolua, que ele tenha outra visão do mundo, da profissão, do trabalho, dos estudos. Que mudança seria essa? Que transformação eu poderia provocar nos meus alunos? Porque veja. Ensinar um fato, teoria, modelo, qualquer coisa que seja, ou ensinar uma técnica, é algo que ele vai lembrar, que ele vai saber fazer enquanto ele estiver a usando, aplicando. Daí a um tempinho, ele começa a estudar outras coisas e esquece. E a gente começa a provocar ali, por meio de avaliações multidisciplinares, ENAD, por outras formas a gente começa a provocar o resgate dessa informação.

Mas quando eu falo de uma transformação, ela é para sempre. Ela é duradoura. Ela não acaba quando eu dou a nota final e fecho o diário, encerro a disciplina. Não acaba. A transformação, ela é permanente.

Então, ao invés de eu planejar a minha disciplina a partir da ementa, quem sabe eu não faço isso, eu penso no meu sonho. Eu gostaria de transformar os alunos como - e aí eu vou desenhar a minha disciplina a partir dessa transformação. Como é que os meus alunos serão pessoas diferentes a partir da minha disciplina? Pode parecer um pouquinho desafiador, isso, mas não é, não. Veja, vamos pegar aqui o exemplo de uma disciplina de estatística. Eu puxei esse objetivo de aprendizagem de uma disciplina real na web.

Busquei lá objetivos de aprendizagem, estatística. Escolhi estatística só porque é uma disciplina que quase todos os cursos têm. Então está lá, escrito assim: "Ao final da disciplina, os alunos deverão ser capazes de organizar e descrever conjuntos de dados e dominar os fundamentos básicos da probabilidade e da inferência estatística. " OK, beleza. Não tem problema, é claro que aqui tem mais de um objetivo de aprendizagem, isso não é o recomendável, mas tudo bem.

Como é que você imagina? Será que o aluno etá vibrando com isso? Falando: "Puxa, quando eu acabar a disciplina eu vou ser capaz de organizar e descrever conjuntos de dados, vai ser fabuloso, meu mundo" - não, o mundo dele não vai ser diferente. Então o que eu posso pensar em termos de transformação legal para os meus alunos? Quem sabe essa pequena diferença. "Ao final da disciplina, os alunos deverão ser capazes de tomar decisões baseadas em dados. " Eu vou ensinar a mesma coisa, mas o meu objetivo aqui não é saber se o aluno é capaz de organizar e descrever conjuntos de dados, mas se ele é capaz de tomar decisões baseado em dados, porque, se ele for capaz disso, ele tem que saber analisar dados, ele tem que saber fazer análise descritiva, ele vai conseguir calcular ali suas médias, suas medidas de tendência central ou de dispersão. Para tomar decisões baseadas em dados, ele pode até ter que relembrar a técnica na hora.

Ter que relembrar os fatos. Mas ele está seguro em relação a quais são as condições básicas para se tomar decisões baseadas em dados. Verificar fonte de dados, se houve um tratamento adequado. Mesmo que ele tenha que estudar alguma coisa disso de novo. Entende? Então tem muitas coisas que eu posso buscar fazer, de transformação nos alunos, mesmo que eles tenham que estudar de novo, que eles tenham que revisar alguma coisa.

A minha área, que é computação, na minha área a gente ensina sete formas de ordenação de dados para os alunos. Eu não quero que os alunos saibam todas, mas eu quero que eles sejam capazes de entender, de ter uma visão abstrata da manipulação de dados pelos computadores. Na hora de usar a técnica, ele vai lá e busca de novo, procura na Wikipédia. Então, é muito mais legal a gente começar os nossos objetivos de aprendizagem por meio dessa transformação. E aí fica, cada área vai ter uma expectativa diferente sobre que perfil de aluno - está muito mais voltado para a atitude, não é? Que perfil de aluno eles desejam formar.

A partir desse grande sonho, dessa minha expectativa de transformação, aí sim eu começo a apresentar a disciplina para os meus alunos vou elencar os objetivos de aprendizagem. Antes de eu apresentar a disciplina, interessante é pensar no que é que o aluno ganha com isso. Porque de repente eu falo assim: "Os meus alunos deverão ser capazes de tomar decisões baseadas em dados. " Mas ele pode não entender o que isso significa em termos de resultados pessoais, de ganhos. Então a gente pode colocar lá, na hora de apresentar a disciplina, falar quais são os valores utilitários, ideológicos, sociais e hedônicos para ele.

Utilitários são aqueles relacionados ao trabalho, a como ele vai melhorar de vida. Ideológicos é como ele muda, ou como ele influencia a sociedade, a comunidade, o mundo, como ele pode tornar o mundo melhor. Sociais é como ele vai se relacionar melhor com os outros, ou como ele vai desenvolver a si mesmo, como ele vai se destacar perante os outros. E os valores hedônicos são relacionados ao prazer intrínseco, o prazer de fazer a coisa propriamente dita. Então eu pego esse meu sonho e vou tentar escrever para os alunos na forma de coisas que eles percebam o valor.

E assim eu gero motivação para que, em seguida, eu comece a trabalhar com os objetivos de aprendizagem, que aí a gente cai no espaço mais comum, você procura lá na taxonomia de Bloom quais são os níveis dos objetivos de aprendizagem e constrói aquilo que se espera na sua disciplina. Então, quando a gente fala de objetivo, a ideia aqui era discutir: o objetivo não vem da ementa. Vem desse sonho, dessa expectativa que você tem de transformação dos seus alunos. Depois dos objetivos, a gente vai ter que dar atenção especial também às atividades. Que é o segundo elemento do nosso planejamento integrado.

Não tem uma ordem. Provavelmente, quando você trabalhar nas atividades, você vai precisar revisr os objetivos, repensar a avaliação, na hora que você for mexer na avaliação você vai ter que repensar os outros dois também. Mas o que nos interessa é que a gente tem que abandonar radicalmente a ideia de que a avaliação dos alunos é feita por meio de provas. As atividades que os alunos fazem não são provas. Prova é a única forma segura, certíssima de matar o engajamento dos alunos.

Se você quiser fazer todo o engajamento dar errado, faça provas. Principalmente provas de muito pontos. Receita certa: se você quiser alunos engajados, você tem que fazer atividades autênticas. E por atividades autênticas, nós estamos falando de atividades realísticas, são aquelas baseadas no mundo real, em que os alunos vão fazer algo concreto, sabe, baseado no que um profissional da área realmente faz. Eles vão perceber sentido nisso, vão perceber significado nisso porque estão se baseando na profissão mesmo.

Tem que haver uma produção deles, eles têm que criar algo novo, então preencher um formulário como uma prova não é uma atividade engajadora. Eles precisam produzir, uma produção menor, seja um relatório, seja um vídeo, um texto, um software. Mas também pode ser algo mais complexo. Eles precisam produzir, e a partir de suas próprias escolhas. Eles precisam tomar decisões dentro do processo de produção, não pode haver uma solução única para o problema.

E é isso que vai dar empoderamento. Normalmente essas atividades são mais complexas mesmo, não são simples listas de exercícios. Complexas não significa difíceis. Complexas é que envolvem muitos elementos, por aí, daí a necessidade da tomada de decisões. Mas essa complexidade é encarar um desafio, um desafio que está no nível das habilidades dos alunos, mas é encarar o desafio que vai gerar a motivação intrínseca, que é um elemento importante para o engajamento.

Finalmente, são atividades que devem promover a interação. É um trabalho colaborativo, vai gerar pertencimento. O aluno passa a se sentir parte de um grupo, de uma turma, de uma instituição. Então são tarefas que geram um envolvimento muito maior. E essas tarefas, muitas vezes, a gente tem que dar a chance de o aluno tentar novamente, corrigir alguma coisa, melhorar.

Porque isso leva à proficiência, ou à maestria. Então atividades, começam atividades que podem ser um projeto, podem ser a solução de um problema, pode ser uma pesquisa, pode ser uma prática laboratorial, pode ser uma simulação. . . existem inúmeras formas de fazermos essas atividades e basicamente a gente tem que buscar as metodologias ativas para encontrar o que se adequa mais à nossa disciplina.

Mas são sempre atividades que envolvem o professor. O professor participa do processo. O aluno não faz nada sozinho. O professor entra como orientador, como acompanhador, como conselheiro, como avaliador, como alguém que traz estímulo, que reforça - na hora que os alunos estão desistindo, ele vem e dá uma injeção de ânimo. Então o professor participa.

Agora, veja. Quado a gente fala de atividades autênticas, não é toda semana, o tempo todo do semestre, não. A gente vai fazer uma, duas, três. Pense nisso como uma substituição das provas. Nada me impede de trabalhar com listas de exercícios.

Listas de exercícios exercitam habilidades. Então eu vou mais reforçar, confirmar, você entendeu mesmo? Você sabe fazer esse cálculo mesmo? Você entendeu esse fato mesmo? Uma lista de exercícios exercita conhecimentos e habilidades. Não é uma atividade autêntica. Você pode usar a lista à vontade, e deve. Mas não substitui a expectativa de uma atividade mais interessante e engajadora para os alunos.

E aí a gente chega no terceiro ponto. É uma discussão rápida, claro, que são as avaliações. E aqui a gente precisa fugir muito da avaliação que a gente faz tradicionalmente, que é a prova. A prova é uma avaliação do tipo auditora. Eu olho o que ocorreu no passado, se o aluno foi bem, se foi mal, se ele soube ou não soube, se ele lembrou ou não lembrou, se sabe qual é ou não sabe, ele olha o que aconteceu no passado.

O que o aluno aprendeu ou não aprendeu. Uma avaliação prospectiva, ela olha o que o aluno está apto a fazer dali para frente. Então ela fala assim: você sabe fazer isso? OK, então vou te dar meio que quase que um atestado, uma credencial para fazer algo no futuro. Ela olha para frente, por isso esse nome, prospectiva. E quando a gente constrói uma avaliação dessas, a gente vai olhar lá para os objetivos de aprendizagem.

Quais são os objetivos de aprendizagem que eu busco avaliar? E aí eu pego as atividades, porque eu vou avaliar esses objetivos de aprendizagem em cima das atividades. Eu preciso ter evidências da aprendizagem para poder verificar se o aluno desenvolveu ou não determinada habilidade. Por isso que a coisa é muito amarrada, objetivos, atividades e avaliação. A atividade gera evidências que à luz dos objetivos de aprendizagem eu vou ver se o aluno desenvolveu ou não desenvolveu a habilidade. Dando chance, inclusive, para ele melhorar, sim.

Agora, um elemento muito importante dessa avaliação é que ela seja baseada em critérios claros, objetivos, que os alunos compreendam. E a gente sempre recomenda o uso de rubricas de avaliação. Uma rubrica nada mais é do que uma tabela em que eu tenho vários critérios objetivos apresentados para avaliar uma atividade. Então eu não estou falando do objetivo de aprendizagem. Eu estou falando de olhar para a atividade, ver como vou avaliá-la a partir de um ou mais objetivos de aprendizagem.

Não só um. Se eu mudo aqui a atividade, eu vou ter que mudar a rubrica também. Então eu tenho um ou mais critérios para os quais eu tenho de dois a cinco níveis nas colunas. Não precisa todos os critérios terem o mesmo número de colunas. Eu tenho de dois a cinco níveis por coluna.

Eu apresento isso para o aluno antes mesmo de ele fazer a atividade. E assim o aluno sabe como ele será avaliado. E, se ele precisar melhorar, eu vou marcando ali na rubrica que nível ele alcançou e vou dizer para ele onde ele pode melhorar. E aí eu dou a chance de ele melhorar, e assim ele vai desenvolvendo a proficiência. Então a rubrica, ela funciona meio que como um combinado com os alunos sobre como eles serão avaliados a partir dos objetivos de aprendizagem, em cima daquelas atividades.

Eles sabem o que fazer, como fazer. Isso facilita bastante. Agora, se eu quiser uma avaliação que realmente funcione, eu tenho que ir um pouquinho além. Eu tenho que deixar o aluno participar desse processo de avaliação. Então entra em cena a autoavaliação.

Autoavaliação não é perguntar para o aluno quantos pontos ele quer, ou quantos pontos ele acha que ele merece. Autoavaliação é você pegar essa mesma rubrica, ou uma bem próxima, é claro, que algumas coisas ali podem ser só de competência do professor avaliar. Mas você vai pegar algo bem próxmo e falar para o aluno: "Como é que você se sente? Como é que você percebe o que você fez? Você acha que você foi bem aqui, Que nível você se dá? Talvez eu tenha que mudar alguma redação e criar uma rubrica parecida, próxima, mas não usar exatamente a mesma. Mas se o aluno não tiver voz no processo de avaliação, não haverá empoderamento. Ele vai sentir que aquilo é arbitrário, que é radical, e vai se sentir injustiçado.

Então é uma avaliação colaborativa, como tudo na vida. Agora, seria legal também a gente trazer a perspectiva da avaliação por pares. Na avaliação por pares, o aluno vai avaliar seus colegas. Não é para assumir o papel do professor não, nem para diminuir o trabalho do professor, apesar de isso ajudar. O objetivo, aqui, é desenvolver o sentimento de grupo, de comunidade, desenvolver esse sentimento de pertencimento.

Mas também desenvolve a empatia, a preocupação com o colega, desenvolve a habilidade de avaliação do próprio aluno, ele passa a entender um pouco mais como é o processo de avaliação, como ele será avaliado e desenvolve a habilidade dele mesmo avaliar outros em outras situações. Avaliação por pares é uma das técnicas que às vezes a gente menos usa, mas ela é super interessante. Às vezes a gente usa errado, mas são recursos que permitem tornar o aluno participante do processo de avaliação. E aí, é claro, a gente tem que pensar que quando a gente está fazendo a avaliação tão diferente assim, a gente não vai trabalhar só com notas. Notas mostram o tanto que o aluno errou no processo de aprendizagem.

Quando a gente fala de avaliação de habilidades, a gente está falando o que ele pode fazer, o que ele está apto a fazer. A gente olha para o futuro, não para o passado. O tanto que ele foi bom ou ruim nesse processo, não, o tanto que ele a partir deste momento está apto a fazer. E é ali onde eu percebo quais habilidades ele desenvolveu ou não que eu vou dar a chance de ele melhorar. Então entra em cena a aprendizagem baseada na proficiência, o mastery learning, também do Benjamin Bloom.

Um conceito bem interessante, se não conhece, dá uma olhadinha, na Internet você acha fácil. Enfim, se a gente quiser ter uma disciplina engajadora, eu não preciso de tecnologia. Lá na frente ela pode ajudar, mas não é o ponto de partida. Eu preciso motivar os alunos, aí por meio dos objetivos eu vou dizer o que ele ganha com isso, o que eu pretendo na minha disciplina, o que ele ganha com isso. E eu preciso cuidar, no processo, de gerar valor intrínseco, importância, associação, empoderamento e maestria, que são cinco caminhos que o Dennis Shirley e o Andy Hargreaves falam no livro.

Faço isso com atividades e avaliações a partir de uma lista de objetivos bem feita. Está vendo? Engajar aluno dá um trabalho danado, mas eu não preciso de nada mais do que boa vontade. Agora, se eu tiver um bom ambiente virtual de aprendizagem, isso vai fazer uma diferença, sim. Vai fazer uma diferença grande. De acordo com Owen Schaffer, no seu artigo, ele diz: "Se os seus alunos ficarem perdidos, não vai funcionar.

Você pode cuidar de todo o resto, mas não vai funcionar. (áudio cortado) ter feedback o tempo todo, e para isso a gente precisa de um bom ambiente virtual de aprendizagem. Daria para fazer uma apresentação inteira sobre isso aqui, mas eu vou guardar porque, quem sabe, não surge um novo convite para um outro momento. Fica para a nossa apresentação "Como engajar os alunos nas disciplinas online parte 2. " Mas um bom ambiente virtual de aprendizagem é fundamental para você conseguir colocar tudo aquilo do planejamento integrado em prática.

E assim, agradeço à Instructure pelo convite por essa apresentação, agradeço a vocês por terem me acompanhado até aqui. Deixo aqui meus contatos das redes sociais, no LinkedIn, no Instagram, basicamente é procurar "Marcos Kutova" na Internet que vocês me acham. E fecho dizendo que foi um prazer poder cmpartilhar isso com vocês. Obrigado.
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